segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Cidade


Maquinalmente para casa regresso,
no mesmo trajecto, dia-a-dia,
E os da cidade, altivos, soberbos,
Acham-no uma monótona rotina.

Não decifram em meu olhar o prazer de ao fim de um longo dia
cansado,
ao sossego de minha aldeia,
à paz de minha casa voltar.
Ah! Como já o sinto, embora longe,
embora sufocado num apinhado autocarro
de corpos cambaleando, exaustos, aborrecidos.

E minha alma luzidia
transforma meu rosto
num rio de alegria
ao qual ninguém parece querer aceder.

Mas esse rio estreitece,
Ah! Como ele rapidamente esmorece!
Quando, olhando à janela, a cidade que abandono,
Encontro fixo em mim
um olhar entristecido, esmagado, dolorido,
Num rosto assombrado, sufocado por naquela terra ficar.

Ah! Como o posso entender, como sei o quanto está a sofrer,
Mas não sou capaz de ajudar.

Egoísta!
Como sou capaz de me deixar ficar?
Como permaneço sentada, sossegada,
Vendo lágrimas brotarem sem cessar?
Ah! Mas não sou capaz de ajudar!

E o rosto já longe continua…
O semblante adormecido,
Pela dor invadido.
Já só corpo,
Sem espírito!


Ana Silva

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